A luz das 16:30

Quando, aos meus seis anos de idade, uma professora pediu à nossa turma para desenhar o que mais gostávamos de fazer, não pensei duas vezes: desenhei o corredor do meu prédio onde brincava com meus amigos. Na hora não soube dizer por que. Não era pelo lazer, pela brincadeira em si, pela distração ou por acaso, mas me lembro de justificar dizendo que o Sol entrava pela janela e coloria o corredor. Eu falava com a professora: “sabe, quando o sol entra e você fica no cantinho, brincando?”.

Um momento que me confortava. Não existia desenho ou palavras que traduzissem aquele sentimento. O lápis de cera laranja não era suficiente. E ainda não foi!

Vinícius Steinbach

sábado, 16 de julho de 2011

Uma história de Vicente - 16.2

Albuquerque gostava de pão de queijo, mas sempre pedia "um pão na chapa, sem amassar e uma média clarinha", para o café da manhã. Não gostava de acordar cedo, mas não conseguia dormir até tarde. Quando completou quarenta anos, sentiu que havia em suas costas muitas horas de sono negadas pela falta de cortina ou simplesmente porque seu corpo as furtou, biologicamente.

Embora fosse funcionário público, seu lirismo era farto e beirava a imensidão do atlântico, metafórica e geograficamente, de uns anos pra cá. Em verdade, chegava a se irritar quando viam antagonismo entre sua profissão e sua profissão. Poeta funcionário público ou funcionário público poeta: funcionário poeta público.

Sobre o funcionalismo público, Albuquerque dizia que é preciso ser nobre para ocupar um cargo nobre e que “funcionário público que não trabalha é igual policial corrupto”. Do carimbador do protocolo geral ao diplomata da carreira mais louvável, ele acreditava que o funcionário público era o elo entre a sociedade e o Estado, que deveria designar deveres e assegurar os direitos dos seus cidadãos, de forma justa. Isso não era trivial.

Estranho, mas Albuquerque já nascera com uma biografia maior que a de Vicente...

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