A luz das 16:30

Quando, aos meus seis anos de idade, uma professora pediu à nossa turma para desenhar o que mais gostávamos de fazer, não pensei duas vezes: desenhei o corredor do meu prédio onde brincava com meus amigos. Na hora não soube dizer por que. Não era pelo lazer, pela brincadeira em si, pela distração ou por acaso, mas me lembro de justificar dizendo que o Sol entrava pela janela e coloria o corredor. Eu falava com a professora: “sabe, quando o sol entra e você fica no cantinho, brincando?”.

Um momento que me confortava. Não existia desenho ou palavras que traduzissem aquele sentimento. O lápis de cera laranja não era suficiente. E ainda não foi!

Vinícius Steinbach

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Uma história de Vicente - 7.2

Esses anos divididos entre a página policial e a coluna de crônicas, entre o real e o abstrato, a loucura e a lucidez, a verdade e o rock inglês, fez da rotina de Vicente um pêndulo de relógio entre a tristeza e a felicidade. Numa dessas teria que cobrir a morte de um pescador, num bairro de costa da pequena grande cidade. Pequena porque ele já havia entendido sua lógica, mas gigante para um recém chegado. Pescador! Agora sim Vicente não sabia explicar o que sentia. Foi como se a bola batesse na trave aos 47 do segundo do tempo. Ninguém consegue explicar essa sensação para ambos os lados. Quando a bola bate na trave, parece que voltamos no tempo e os deuses do futebol nos dizem “Viram como tudo pode mudar”.

Era assim que ele se sentia. Vendo de perto os barcos pintados de azul e branco, o barulho do mar, barco que vem barco que vai, o cheiro das algas e o discurso rudimentar dos companheiros do morto lhe fizeram pegar sua moldura vazada e concluir: eu queria ser pescador!

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